SOBRE SUICÍDIO - Posvenção

A morte de uma pessoa não é somente um fim: é também um começo para os sobreviventes. Shneidman, 1973

O que é posvenção?

Qualquer ato apropriado e de ajuda que aconteça após o suicídio com o objetivo de auxiliar os sobreviventes a viver mais, com mais produtividade e menos estresse que eles viveriam se não houvesse esse auxílio. (Shneidman,1973)

São ações, atividades, intervenções, suporte e assistência para aqueles impactados por um suicídio completo, ou seja, os sobreviventes. É uma ferramenta reconhecida mundialmente como um componente importante no cuidado da saúde mental dessas pessoas.

Sobreviventes são todas as pessoas afetadas por um suicídio: pais, filhos, irmãos, familiares, amigos, colegas etc. Além disso, pessoas que perderam alguém significativo por suicídio e aquelas que tiveram a vida afetada ou mudada por causa dessa morte são consideradas sobreviventes.

Em 2023, houveram mais de 16 mil mortes por suicídio no Brasil. A Organização Mundial da Saúde estima que de 5 a 10 pessoas são severamente afetadas pelo suicídio. Existem autores que defendem que são de 28 a 50 pessoas, dependendo da idade e posição social (Bland, 2008; Coleman, 2005), outros falam em 135 pessoas impactadas.

História

A história do movimento de apoio aos sobreviventes começou em 1970, na América do Norte, com a fundação do primeiro grupo de apoio ao luto por suicídio, e, em 1972, o doutor Edwin Shneidman (1973) descreveu o conceito de posvenção, como a “prevenção para futuras gerações” (tradução nossa).

A partir de então, diversos livros e estudos sobre sobreviventes começaram a ser produzidos e um grande número de grupos começou a se estabelecer em diversos países, como Canadá, Inglaterra, Estados Unidos, Suécia etc. (McIntosh, 2008; Scavacini, 2011).

O termo “posvenção” foi introduzido no Brasil a partir da dissertação de mestrado de Karen Scavacini (2011) e o primeiro curso a tratar diretamente do tema foi realizado pelo Instituto Gestalt de São Paulo (IGSP), sob coordenação e docência de Karen Scavacini em 2012. A dissertação está disponível na área de membros na página de teses e dissertações.

Todo sábado anterior ao Dia de Ação de Graças dos Estados Unidos, no mês de Novembro, acontece o Dia Internacional de Sobreviventes Enlutados pelo Suicídio, com diversas conferências e atividades nos Estados Unidos e no mundo. No Brasil, esses encontros têm sido realizados no Instituto Vita Alere em parceria com a AFSP (American Foundation for Suicide Prevention) desde 2015.

Os objetivos da posvenção são:

  • Trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda.
  • Prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto.
  • Minimizar o risco de comportamento suicida nos enlutados por suicídio.
  • Promover resistência e enfrentamento em sobreviventes.

A maioria dos sobreviventes não conta com nenhuma ajuda para lidar com o luto.

Estudos demonstram diferenças significativas na intensidade, duração do luto, aumento de sintomas depressivos e impacto no sistema familiar nos sobreviventes do suicídio, se comparado com outras mortes violentas. (Scavacini, 2011; Wasserman, 2001)

Diferenças no luto

Culpa, vergonha, busca incessante do motivo, sentimentos intensos de responsabilidade, rejeição e abandono, maior dificuldade em dar sentido para a morte, autoacusações, isolamento, mudanças na dinâmica familiar são alguns dos sentimentos e comportamentos usualmente experienciados pelo sobrevivente (WHO, 2008; JORDAN, 2001).

Muitas vezes, amigos e familiares que, usualmente, dariam apoio e ajuda ao luto por outras causas, afastam-se e não sabem o que fazer, contribuindo ainda mais para a sensação de isolamento e abandono vivenciados pelos sobreviventes (SCAVACINI, 2017).

Sem ajuda apropriada, sobreviventes, especialmente crianças, podem experienciar um luto traumático e complicado. A posvenção oferece serviços de acesso aos cuidados especializados para o manejo do processo de luto, minimizando, dentre outras coisas, o risco de suicídios dentro desse grupo vulnerável (SCAVACINI, 2011).

Alguns exemplos do que os enlutados por suicídio possam precisar

  • Auxílio e aconselhamento em assuntos práticos.
  •  
  • Informações – com a consciência de que os indivíduos podem estar desorganizados, logo após a morte, e podem precisar que as informações sejam oferecidas novamente em um momento posterior, ou de uma fonte diferente.
  •  
  • Suporte – assistência particular ou terapia com profissionais de saúde mental.
  •  
  • Oportunidade de conversar com outras pessoas que estão enlutadas por suicídio.

Documentário e Vídeos

Laços e nós: tecendo histórias do luto por suicídio

O que é posvenção? part. Tabata Amaral

Como ajudar alguém em luto por suicídio?

Luto por suicídio part. Tabata Amaral

A posvenção e o cuidado do luto por suicídio na escola

Referências

  • Beautrais, A. L. (2004). Suicide Postvention: Support for families, Whanau and significant others after a suicide – A Literature review and synthesis of evidence.
  • Coleman, M. J. (2005). Suicide Survivors Saving Lives in New York: Suicide Prevention and Public Health (Vol. 2, pp. 81-87). New York: New York State Office of Mental Health (OMS).
  • Jordan, J. R. (2001). Is Suicide Bereavement Different? A Reassessment of the Literature. Suicide and Life-Threatening Behavior, 31(1), 91-103. \
  • Scavacini, K. (2011). Suicide Survivors Support Services and Postvention Activities: The availability of services and an intervention plan in Brazil (Dissertação). Estocolmo, Suécia: Karolinska Institutet, Programa em Saúde Pública, Departamento de Promoção de Saúde Mental e Prevenção do Suicídio.
  • Scavacini, K. (2017). Brazil – The development of Suicide Postvention. In K. Andriessen, K. Krysinska, & O. T. Grad (Eds.), Postvention in Action – The International Handbook of Suicide Bereavement Support (pp. 271-276). Boston: Hogrefe.
  • Shneidman, E. (1973). Deaths of Man. New York: Quadrangle.
  • McIntosh, J. (2008). Pioneers and Hallmark Events: Survivors of Suicide.
  • Wasserman, D. (2001). Suicide: An unnecessary death: Ed Martins Dunits.